Como a Oi Acumulou Dívidas Até Pedir Recuperação Judicial?

recuperação judicial da oi

Recentemente os principais portais econômicos relacionados ao setor empresarial e de negócios noticiaram que a Oi, maior operadora em telefonia fixa e quarta maior em telefonia móvel do Brasil, fez pedido de recuperação judicial.

A companhia, que ocupa ainda o posto de terceira maior empresa no setor de telecomunicações da América do Sul com mais de 70 milhões de clientes, conta agora com a supervisão da justiça para resolver o seu maior desafio em mais de 14 anos de existência: uma dívida de mais de R$65 bilhões. Trata-se do maior pedido de recuperação judicial já feito no Brasil.

Mas você já chegou a pensar porque uma empresa com o tamanho da Oi não conseguiu pagar suas dívidas? E o pior, além de não conseguir pagar, como ela acumulou ainda mais dívidas?

Conhecer as razões por trás deste caso é muito importante e pode ser valioso para que a gestão financeira na sua empresa não caia nas mesmas armadilhas e cometa os mesmos erros, ainda que hoje ela esteja com uma boa saúde financeira.

Ou você acha que somente empresas como a Oi correm o risco de passar por esse mesmo tipo de problema?

 

Como tudo começou

A Oi surgiu em 2002 a partir de um processo de unificação de empresas do setor de telefonia fixa iniciado em 1998 no qual adquiriu grande parte do sistema que existia na época no Brasil com o financiamento de grandes bancos comerciais e de fomento no projeto.

Juntamente com essas empresas haviam também dívidas significativas, mas administráveis, considerando o potencial de negócio que a Oi vislumbrava com toda a área de abrangência da qual tinha obtido o direito de vender e prestar seus serviços.

Porém, para aproveitar todo esse potencial, a Oi precisava fazer novos investimentos para que ela conseguisse não só atender todo esse grande mercado, como poder continuar crescendo nele.

Foi o que a companhia fez. Obteve mais empréstimos e financiamentos com bancos e outros tipos de credores, principalmente com estrangeiros (70% da dívida) a serem pagos em dólar (USD) e euro (EUR), mas também atrelados a taxas flutuantes pós-fixadas, como a TJLP (taxa de juros de longo prazo) e o CDI (certificado de depósitos interbancários), ambas taxas comuns no sistema financeiro do Brasil.

 

E ficaram piores…

Como o dólar subiu cerca de 137% nos últimos cinco anos (mais de 48% só em 2015) e a taxa CDI está em torno de 14,13% (uma das mais altas do mundo) no momento em que este artigo é escrito, sendo 14% maior do que na mesma data há cinco anos atrás, os encargos financeiros devidos pela Oi também cresceram vertiginosamente.

Além disso, a dívida da empresa não estava totalmente protegida das “flutuações cambiais” por meio de instrumentos como Swaps, NDFs (Non Deliverable Forward) e caixa offshore (hedge natural) para amenizar as perdas.

Para piorar, o caixa gerado pela companhia passou a ficar cada vez menos capaz de pagar as dívidas que ela já possuía mais as que continuava a acumular em função dos encargos financeiros, que não paravam de crescer. Sendo que a empresa fechou o ano de 2015 com um EBITDA (geração de caixa operacional) de aproximadamente R$7,8 bilhões e uma dívida líquida que ultrapassava mais de R$38 bilhões. Ou seja, para cada R$1 que a Oi possuía no caixa haviam R$4,87 de dívidas líquidas adquiridas (dívida líquida ÷ EBITDA).

 

O pedido de recuperação judicial

Com uma dívida bilionária crescendo a cada ano e uma geração de caixa insuficiente para honrar seus compromissos, a Oi fez uma série de tentativas para tentar reverter a intensificação do ciclo prejudicial à sua saúde financeira.

Primeiramente, em julho de 2010, a companhia vendeu 23,6% das suas ações para a Portugal Telecom por cerca de R$9 bilhões para ajudar a alavancar os negócios, a qual também fez outro aumento nas participações acionárias pouco tempos depois.

Precisando ainda obter novo aporte financeiro e com urgência, a Oi iniciou no ano de 2013 um processo de fusão com a empresa portuguesa, que na época comprou R$897 milhões de euros em papéis de dívida do Banco Espírito Santo, mas sem o conhecimento dos demais acionistas que apenas assistiram o caixa da companhia brasileira esvaziar rapidamente.

Deste período em diante, as relações entre os acionistas das duas empresas ficaram insustentáveis e a Oi passou a negociar a venda da participação da parte dos portugueses na companhia.

Foram diversas investidas para que grandes grupos como Altice, Apax e Bain Capital, Terra Peregrin, Letter One e Global Telecom comprassem a parte na companhia brasileira, mas nada foi concretizado.

Além disso, a Oi tentou várias vezes renegociar com seus credores, que em maior parte são estrangeiros, para conseguir restruturar as dívidas, mas também não obteve sucesso, enquanto suas dívidas e encargos financeiros continuaram a crescer.

Neste cenário a companhia viu restar apenas a alternativa de fazer o seu pedido de recuperação judicial para proteger o caixa, garantir a continuidade da oferta de serviços aos clientes e, consequentemente, a própria sobrevivência.

 

Lição a ser aprendida

Como você pôde ver, a Oi afundou em dívidas que só cresceram nos últimos anos não somente pelas falhas em algumas decisões e nas alianças malsucedidas, afinal, uma empresa deste porte só chega ao ponto de pedir recuperação judicial após uma série de erros recorrentes em suas diferentes áreas.

No que diz respeito à gestão financeira, um dos principais erros que a Oi cometeu foi quando tomou empréstimos e financiamentos com encargos financeiros sujeitos a taxas e índices flutuantes, sem fazer uma proteção adequada do seu caixa para evitar grandes perdas.

Outro aprendizado deste caso, é que não fazer um correto planejamento das operações financeiras e monitorá-las de forma consistente com o mercado financeiro podem resultar em um descontrole das dívidas no caso das captações, ou, queda de rentabilidade nas operações de aplicações financeiras.

Por fim, uma geração de caixa insuficiente para pagar sequer as dívidas dos juros é outro problema que geralmente também se origina na falta de um planejamento sólido e acompanhamento sistemático das finanças, uma vez que é possível fazer a previsão de caixa e adotar indicadores e metas para verificações periódicas.

 

Um retrato da situação no Brasil

Assim como a Oi mas ainda pouco noticiado, é que no Brasil existem vários outros casos de novos pedidos de recuperação judicial por empresas que também estiveram expostas aos riscos originados pela falta de um melhor planejamento e gestão das operações financeiras da tesouraria.

Geralmente, a gestão financeira nestas companhias está sempre correndo “atrás do relógio e dos prejuízos”, cuidando das contas a pagar e a receber, pagando parcelas dos empréstimos e financiamentos sem verificar se os valores estão corretos, buscando taxas de moedas e índices em vários lugares e atualizando planilhas e mais planilhas complexas.

Com todo esse processo demorado e complexo, existem muitos custos envolvidos e o constante risco de ocorrerem erros que resultem ainda mais prejuízos para a empresa.

Além disso, apenas uma menor parte das organizações no país consegue ter tempo e as ferramentas necessárias para que a gestão financeira seja proativa e focada em encontrar boas oportunidades para melhorar o desempenho financeiro de suas empresas.

Apenas controlar as receitas e despesas no fluxo de caixa não é o suficiente para evitar que a empresa venha a ter sérios problemas em sua saúde financeira mais à frente. Ainda mais se as suas operações financeiras como empréstimos, financiamentos, investimentos, derivativos, mútuos ou garantias estiverem sujeitas às variações das taxas e cotações no mercado financeiro de forma significativa.

Por isso, é necessário que a sua empresa também faça uma gestão focada na melhoria da performance financeira, planejando e analisando as finanças dos negócios em diferentes cenários para descobrir aquilo que os números gerados apenas para controle não mostram, mas que podem ser vitais para que a empresa não precise entrar em um processo de recuperação judicial futuramente.

 

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