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[Parte III] No Auge da Lucratividade Minha Start Up Quebrou – Análise da Liquidez

PARTE 3 DE 3: ANÁLISE DA LIQUIDEZ

Nos dois últimos artigos, contamos a história da Start Up Aromas do Brasil e do desafio de Alfredo na escolha entre duas opções de contrato a ser firmado. Com diferentes volumes a serem entregues mensalmente em cada cenário, ele precisava decidir se entraria no negócio e, caso afirmativo, qual tipo de contrato aceitaria.

[Leia aqui a Parte I – O problema de negócio]

Discutimos então a lucratividade prevista em cada contrato e sob esse aspecto ficou evidente que a diferença entre os cenários seria a escolha entre sobreviver ou ficar milionário.

Aromas do Brasil
Lucro Acumulado Projetado (Comparativo)

[Leia aqui a Parte II – A lucratividade do negócio]

Sob essa ótica, o cenário 2 concretiza a crença na qual o alto crescimento das vendas implica no sucesso do negócio. Vamos analisar, então, como um cenário de crescimento rápido afeta o caixa em relação a um cenário de vendas estáveis.

Relembrando novamente os dados que temos:

Plano de Negócios

Cenário 1: Fornecimento mensal de 25.000 libras-peso;
Cenário 2: Fornecimento mensal de 25.000 libras-peso no primeiros trimestre;
50.000, 100.000, 200.000 ….. até 800.000 para cada novo trimestre.
 

Análise do Cenário 1: Fluxo de Caixa

No cenário 1 a empresa tem vendas estáveis ao longo de 24 meses e inicia o negócio com $260.000 em caixa.

Cenário 1:
Vendas mensais de 25.000 libras/mês – Contrato de 24 meses

Logo no primeiro mês, para realizar a venda de 25.000 libras-peso, a empresa desembolsa $110.000 de custos considerando a aquisição do café, processamento, embalagem e entrega. Esse dinheiro sai do caixa em janeiro, porém a receita de $150.000 relativas às vendas só entrará em abril (30 dias de processamento do café + 60 dias de prazo junto ao fornecedor). Isso significa um déficit de caixa de $110.000 no primeiro mês.

Nos meses seguintes ocorre o mesmo, de forma que ao analisar o trimestre teremos vendas relativas a 75.000 libras-peso, todas as despesas pagas e nenhum caixa ainda recebido.

Cenário 1:
Ciclo Financeiro no Trimestre


 
Visualizando o cenário completo, temos a seguinte situação:

Cenário 1:
Projeção de Caixa

Vamos acompanhar o ciclo financeiro e algumas datas importantes:

 

Análise do Cenário 2: Fluxo de Caixa

No cenário 2, temos uma condição de crescimento de vendas ao longo do tempo. Aceitando esse contrato, o quadro inicia da mesma forma, mas se mostra bastante diferente e complexo com o passar do tempo. Nos três primeiros meses o cenário é o mesmo que o anterior, finalizando o trimestre com um déficit de $70.000 no caixa.

Cenário 2:
Vendas mensais de 25.000 libras/mês no TRI 1, 50.000 TRI 2, 100.000 TRI 3… até 800.000 – Contrato 24 meses

No entanto, no quarto mês, quando a empresa começa a receber as primeiras vendas temos uma complicação. O pedido de venda de abril passa a ser de 50.000 libras-peso, o dobro das vendas anteriores. A produção desse novo volume de vendas exige um desembolso no mês de $210.000, maior que os recebimentos no mês de $150.000 relativos às vendas de janeiro. Temos um déficit de caixa mensal de $60.000 que vai exigir mais financiamento. Esse novo volume de vendas só afeta nosso caixa a partir de julho ($300.000) e assim temos um cenário da seguinte forma:

Cenário 2: Ciclo Financeiro no Trimestre
(em mil $)


 
Vamos acompanhar o ciclo financeiro avaliando as datas importantes.

Cenário 2:
Projeção de Caixa

Se fosse possível manter o negócio até o final do contrato, esse ciclo negativo de caixa se alongaria até junho de 2018 e seria necessário mais de $4.000.000 até a inversão do ciclo.

Aromas do Brasil – Caixa Disponível

Interessante pensar que do ponto de vista da contabilidade financeira, todas as transações realizadas foram lucrativas. Se a Aromas do Brasil tivesse conseguido no cenário 2 o volume de dinheiro necessário para girar o negócio, teria um lucro de $1,95 milhões já no primeiro ano.

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Isso nos remete a discussão inicial sobre o dilema entre lucratividade e liquidez: como um cenário de crescimento rápido pode realmente ser muito perigoso em termos de fluxo de caixa, mesmo que seja bom em termos de lucratividade.

O assunto é tão relevante que em setores como o da indústria de computadores, alto demandantes de capital de giro, é comum que pedidos de venda acima de determinado montante tenham que ser aprovados pela diretoria financeira para serem efetivados.

E você, tem claro o tamanho do seu ciclo financeiro? Quanto de caixa adicional é necessário no negócio para cada unidade adicional de vendas? Tenha sempre esses números em mente para saber a velocidade de cruzeiro ideal para o seu negócio.